7.6.05

NÃO QUERO MAIS DO QUE TENHO.

A medida para o malho,
Pela taxa da Cafeira
Que tem do malho a craveira,
São dois palmos de caralho,
Não quer nisto dar um talho.
E eu zombo do seu empenho
Pois, tenho um palmo de lenho
Com que outras putas desalmo,
Inda que tenha um só palmo
Não quero mais do que tenho.

Gregório de Matos, o Boca do Inferno, nasceu em Salvador, no Brasil, no dia 7 de Abril de 1623. Filho de um português e de uma baiana, estudou Humanidades no Colégio dos Jesuítas, tendo-se transferido posteriormente para Coimbra onde viria a doutorar-se em Direito. Em Portugal exerceu cargos de juiz criminal e procurador. Regressou ao Brasil com 47 anos de idade, recebendo cargos de vigário-geral e de tesoureiro-mor. Foi deposto desses cargos por não querer cumprir as ordens eclesiásticas. Optando por uma vida de boémia, ao mesmo tempo que aguçava o seu espírito mordaz em contundentes sátiras, foi-se transformando, com os anos, numa personalidade cada vez mais marginal. Uma das suas sátiras valeu-lhe a deportação para Angola. Em Luanda voltaria a exercer advocacia, regressando ao Brasil em 1695, para aí falecer um ano depois. A sua obra poética, satírica, pornográfica, mas também lírica e moral, foi compilada em seis volumes.