10.7.05

PERGUNTA

Deus, mais uma vez ao longo dos tempos enviaste mensageiros
Para este impiedoso mundo:
Eles disseram, «Perdoa a todos», e disseram, «Ama o próximo -
Liberta o seu coração do mal.»
Eles são venerados e lembrados, embora nestes obscuros dias
Os mandemos embora com insensíveis cumprimentos, para fora das nossas casas.
E entretanto vejo dissimulados ódios assassinando os desamparados sob a capa da noite;
E a Justiça a chorar silenciosamente, furtivamente, o abuso do poder,
Sem esperança de redenção.
Vejo jovens a trabalhar freneticamente,
Aflitos, batendo com a cabeça na pedra, inutilmente.

Hoje a minha voz calou-se; não tenho música na minha flauta:
A negra noite sem lua
Encarcerou o meu mundo, mergulhando-o num pesadelo.
E é por isso que, com lágrimas nos olhos, pergunto:
A esses que envenenaram o teu ar, a esses que apagaram a tua luz,
Será que lhes perdoaste? Será que os amas?


Tradução de José Agostinho Baptista.

Rabindranath Tagore (1861-1941)
Rabindranath Tagore nasceu em Calcutá, na casa de família em Jorasanko, em 1861. Em 1875 a sua mãe faleceu. Dois anos depois, o poeta começou a publicar regularmente no jornal mensal da família, Bharati. Em 1878 visitou, pela primeira vez, a Inglaterra. Casou-se em 1883, vindo a sua mulher a falecer em 1902. Nos anos seguintes Tagore virá a perder igualmente o filho Rani (1903), o seu pai (1905), o filho Samindra (1907) e a filha mais velha, Bela (1918). Em 1913 foi-lhe outorgado o Prémio Nobel da Literatura. Em 1915 encontrou-se, pela primeira vez, com Gandhi. Viajou pelo Japão, Estados Unidos, França, Holanda, Suiça, Alemanha, etc. Em 1915 foi-lhe atribuído o título de Cavaleiro, que viria a devolver, em 1919, na sequência do massacre do General Reginald Dyer em Amritsar. Em 1921 inaugurou Visna-Bharati, a sua universidade de Santiniketan. Em 1928 começou a pintar, vindo a expor alguma da sua pintura em várias capitais europeias. Em 1932 morreu o único neto do poeta que virá a falecer, em 1941, na cidade de Calcutá.