29.8.05

ARteoRIA # 3 – Portugal dos pequenitos clandestino

Farol
(imagem respigada aqui)
Farol Ilha de raios oblíquos contínuos sequenciais nas estrelas da noite. O barco azul parte de Faro para a Ilha do Farol durante o dia. Ao longe, o farol anuncia com elegância o seu pequeno reino. O barco azul leva-me a caminho de um mistério, quem sabe se um pequeno paraíso perdido no mar. No Farol Ilha tudo gira em torno do mensageiro luminoso no alto, talvez um mensageiro entre dois mundos. De dia, o farol apenas vigia o mar como um deus; de noite, deus transforma-se num silencioso ritmo visual. O farol centra descentrando assim a ilha em feixes luminosos sequenciados. O farol divide a sua ilha em legal e clandestino, na forma de direita e esquerda, pelo menos seguindo as coordenadas da plataforma onde caminho. Em sentido contrário será esquerda e direita, ou seja, clandestino e legal lado a lado. Mas no fundo na ilha do farol, o clandestino e o legal vivem de mãos dadas. O Farol Ilha é o Portugal dos pequenitos estilo clandestino, na continuidade do Raul Lino, em ponto pequeno, português suave marítimo contemporâneo. O outro Portugal dos pequenitos tem muito manuelino. O legal clandestino, ou seja, o clandestino no seu esplendor, tinha que ser uma ilha no mar ao sul, em honra dos estilos importantes da nossa cultura; e tinha de ser uma ilha onde só se pode ir num pequeno barco azul. A diferença entre o legal e clandestino nesta ilha, revela-se apenas na noite, em forma de pequenos candeeiros, ténues globos luminosos, muito baixos, que na rua acompanham os humanos, pontuando apenas, sem competir com deus lá no alto. As ruas são sempre estreitas, escuras e demasiado estreitas na parte clandestina, a areia aperta-as. E deus é muito mais bonito no clandestino, revela-se no azul-escuro estrelado imenso.
O estilo manuelino impera em Tomar, na Batalha ou nos Jerónimos. O Raul Lino povoou especialmente Sintra e está um pouco por todo o país. Quanto ao contemporâneo clandestino, o mais presente no nosso território, nunca o poderia imaginar deste modo, com esta escala demasiado humana, pequenita mesmo, parece a brincar. O estilo clandestino na Ilha do Farol não é um corte com o passado, é uma continuidade do português suave em pequena dimensão, com deus e tudo, vigiando lá no alto. Mas ali não há igreja, só o farol se eleva nos céus em direcção ao sol. De noite, os traços de luz giram em torno de deus dançando, a lua é enorme na praia e o mar prateado.
Maria João

4 Comments:

At 12:13 da tarde, Anonymous Anónimo said...

As nuvens tresmalhavam o céu naquele final de tarde, passando vagarosamente como borregos pela sua mirada, transmutando em formas que tentava lhes impor consoante semelhanças extremamente arbitrárias. Junto ao cais a luz reflectia na água encadeando a sua mente por instantes. O grasnar das gaivotas provocava-lhe um sentido de urgência, algo estava para acontecer... Foi naquele preciso instante em que as tonalidades iridescentes da água atingiam o vermelho paixão e o vento refreou o seu murmurar, assim foi a primeira vez que a viu.

 
At 3:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Lá lodestar
que texto bonito!
Maria João

 
At 10:54 da tarde, Anonymous Anónimo said...

a ilha do farol... um dia estava eu numa aula de português e lembro-me de estar toda a turma a ler uma poesia de fernando pessoa... e num soluço como que a anunciar umas quantas lágrimas que se aproximavam... li uma estrofe que dizia... "não sei se é sonho se realidade, se mistura de sonho e vida; aquela terra de suavidade que na ilha extrema do sul se olvida" ... e para mim, o poeta sem querer tinha acabado de definir por mim o farol... a ilha do farol... e todos os que amam aquele cantinho como eu amo... estou certa que entendem o que quero dizer, que se emocionam como eu, que se arrepiam como eu quando o aquele farol parece encher de luz as nossas vidas...

 
At 9:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Só sei que nada sei...porque é assim que me sinto quando estou no Farol...porque NAO SEI mesmo nem o que sinto, nem o que vejo, nem o que oiço...é o ar que respiro que me enche o coração, é o múrmurio das ondas que me embala, são as luzes do Farol que me preencheram a infância e me preenchem agora a juventude...são os momentos que lá passei...uns muito bons, outros muito maus...Mas bons ou maus não são esses que marcam os episódios da nossa vida? e eu sinto-me feliz pelos meus terem sido no Farol...e espero do fundo do meu coração que quando for velhinha passe os meus últimos anos de vida no Farol que é a minha casa...Para poder ver todos os dias o pôr do sol na ria, da marquise da minha casa, para poder sentir o cheiro da maresia e a brisa marítima todas as manhãs quando acordar, para ser embalada todas as noites pelo murmúrio das ondas e para, finalmente as luzes do Farol me preencherem a vida...curta ou longa...apenas para adormecer eternamente com um sorriso nos labios...

 

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