16.11.05

OS LOUCOS

Há vários tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.

Não gosto destes loucos.
(torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.

António Osório
António Osório, poeta e advogado, nasceu em Setúbal em 1933. Director do Foro das Letras, revista da Associação Portuguesa de Escritores-Juristas, colabora regularmente com crónicas no J.L.- Jornal de Letras, Artes e Ideias. Tem livros publicados no Brasil, em Espanha, em França e em Itália e está também traduzido em revistas para francês, inglês e catalão. Tendo-se estreado como poeta apenas na década de 70, embora já em 1954 colaborasse na revista Anteu, António Osório sai de algum modo da geração poética de que provém, sem contudo se integrar nas correntes literárias que por então se impunham. A Raiz Afectuosa, título do seu primeiro livro, determina em boa parte a tonalidade de uma voz que se assume como vocação primordial, íntima e natural para uma espécie de canto da criação e do mistério da vida e da morte, do animal e do humano.*