9.12.05

da hipocrisia

< Desconfiar dos homens (começando por nós próprios) mas não desesperar deles. Esta máxima, que descobri (?) ainda adolescente e venho praticando com insucessos estrondosos (sempre que confiei demasiado ou precipitadamente) obriga a uma feia coisa que é a hipocrisia. Lidar com uma pessoa, diariamente, e esconder o que pensamos dela, das suas ambições, possibilidades confessadas ou arrogantes, da sua mitomania exacerbada. Obrigar a mentiras piedosas ou a silêncios reservados ou a troças pequeninas, ironias benevolentes e, talvez por isso, ainda mais cruéis. Fingir não ver, não perceber. Enfiar o barrete (todos os que o Outro queira) com um à-vontade de estupidez risonha. >
Luiz Pacheco, Diário Remendado, 24/2/73.