12.1.06

O Sapo

Um canto na noite sem ar...
— A lua põe-se a pratear
os recortes do verbo obscuro.

Um canto; um eco que ressoa
Sob o capim, cantando à-toa...
— Calou-se. Vem, é lá, no escuro...

— Um sapo! — Por que esse pavor,
perto do teu fiel soldado?
Ei-lo: é um poeta tosquiado,
Um rouxinol da lama... — Horror! —

— Horror por quê? Olha-o, escondeu
em sua toca o olhar ardente
e foi-se: frio, indiferente.
Boa noite — Esse sapo sou eu.

Tradutor desconhecido.

Tristan Corbière

Tristan Corbière, de seu nome verdadeiro Édouard Joachim Corbière, nasceu francês em 1845. Uma terrível deformação corporal valeu-lhe a alcunha de Morte. Levou uma vida boémia, passada a maior parte junto ao mar. Segundo Breton, que o incluiu na sua Antologia do Humor Negro, «vestia-se à maneira dos marujos, coxas despidas e pernas a cambalear todas dentro de umas botas enormes». Os seus poemas foram coligidos sob o título Les Amours Jaunes (1873). Foi Verlaine quem primeiro lhe prestou atenção. Os surrealistas fizeram dele uma espécie de inventor da escrita automática.