30.1.06

Palavras e Presságios

Voltar a uns versos de Kavafis, de Eliot,
como quem regressa a uma casa que foi nossa há anos.
Repetir as sílabas, iluminar os símbolos
como fechadas salas, janelas cheias de pó
que escondem um jardim perdido, árvores da morte.
Melancolia do regresso e medo do vazio,
madeira que range, esvoaçar de sombras
e, de repente, num quarto, perdida
como um velho copo ou um espelho embaciado,
encontrares a chave da tua vida.
Palavras que te avisaram: “Um monótono dia
segue-se a outro igualmente monótono”,
ou te advertiram: “Nascer, foder, morrer.
Isso é tudo, isso é tudo, isso é tudo, isso é tudo”.
Palavras que a velhice e a noite me oferecem,
presságios que não entendi, anunciadas derrotas.

Tradução de Joaquim Manuel Magalhães.

Juan Luis Panero
Juan Luis Panero nasceu em Madrid em 1942. Oriundo de uma família abastada, recebeu uma formação distinta em Londres. O seu espírito rebelde levá-lo-ia a viajar por vários países da América Latina, onde foi conhecendo escritores como Octavio Paz, Jorge Luis Borges e Juan Rulfo. O seu primeiro livro, A través del tiempo, data de 1968. Com Antes que llegue la noche, de 1985, obteve o Prémio Cidade de Barcelona e, três anos depois, com Galerias y fantasmas, conquistou o Prémio Internacional de Poesia da fundação Loewe. Em 2003, parte considerável da sua poesia foi reunida num só volume, numa selecção a cargo de Felipe Benítez Reyes.

3 Comments:

At 3:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

gosto mais do outro panero, o leopoldo maria!
Rui Costa

 
At 5:21 da tarde, Anonymous Anónimo said...

eu também
foi dos primeiros a morar cá:
http://antologiadoesquecimento.blogspot.com/2005/05/cano-para-uma-discoteca.html

 
At 9:04 da tarde, Blogger lebredoarrozal said...

podia vir morar outra vez..
(lebre em modo fã do leopoldo maria)

 

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