13.2.06

ESTRELAS

Sobre o Japão é tudo estrelas
estrelas que fedem a petróleo
estrelas que falam como gringo
estrelas que chocalham como Fordes velhos
estrelas da cor da Coca-Cola
estrelas que zumbem de geladeira
estrelas com gosto de enlatado
estrelas tratadas a algodão e pinça
esterilizadas com formol
estrelas com radioactividade
algumas delas muito velozes para os nossos olhos
algumas destas estrelas com órbitas excêntricas por aí abaixo
vão de mergulho ao alicerce do universo
sobre o Japão é tudo estrelas
e nas noites de invernia
realmente em toda a noite
sua cadeia estendem dura e fria.

Takenara Iku

Agostinho da Silva
Agostinho da Silva, professor, filósofo, ensaísta, novelista, poeta, orador, investigador, tradutor, nasceu no Porto a 13 de Fevereiro de 1906. Passou a infância em Barca de Alva. Concluído o Curso Geral dos Liceus, licenciou-se em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Doutorou-se na Sorbonne com uma tese sobre Montaigne. Quando Salazar extingue a Faculdade de Letras do Porto, onde Agostinho da Silva tinha iniciado a sua docência, vai para Madrid. Demitido do ensino oficial por se recusar a assinar uma declaração «jurando não ter pertencido ou vir a pertencer a qualquer associação secreta», passa a residir em Lisboa. Colabora na Seara Nova e n’O Diabo. É preso pela PIDE e o exílio espera-o: Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Brasil, África, Ásia. No Brasil, onde viveu vinte e cinco anos, fundou quatro universidades e criou centros de estudos superiores. Em 1958 foi-lhe concedida a nacionalidade brasileira. Regressado a Portugal em 1969, Agostinho da Silva torna-se um dos nossos pensadores mais originais. Morre em Lisboa, a 3 de Abril de 1994 com oitenta e oito anos de idade.