21.3.06

Que poderei do mundo já querer,
que naquilo em que pus tamanho amor,
não vi senão desgosto e desamor,
e morte, enfim; que mais não pode ser!

Pois vida me não farta de viver,
pois já sei que não mata grande dor,
se cousa há que mágoa dê maior,
eu a verei, que tudo posso ver.

A morte, a meu pesar, me assegurou
de quanto mal me vinha; já perdi
o que perder o medo me ensinou.

Na vida desamor sòmente vi,
Na morte a grande dor que me ficou:
Parece que para isto só nasci!

Luís Vaz de Camões

Camões nasceu muito provavelmente em 1524, embora pouco se saiba certo sobre sua vida. Viveu muito tempo em Lisboa e residiu em Coimbra. Seguindo a carreira das armas, bateu-se em Ceuta – onde perdeu o olho direito. Célebre pelas brigas e valentia, tinha a alcunha de Trinca-fortes. Teve na vida e na morte um destino doloroso e infamado. Regressado de Ceuta, levou uma vida de prazeres, de rixas e de penúria. Corre a fama de que sofreu vários desterros por castigo: no Ribatejo, em Ceuta e, durante a sua estada em Goa, em Ternate. Mas a única pena que se sabe ao certo que lhe aplicaram foi a de 4.000 reais, quando, em 1553, feriu um homem do Paço. É natural que a partida para a Índia tenha relação com a vida acidentada. Estando na Índia, viajou também pelas Molucas. Nas costas da Indochina naufragou junto da foz do Mecon, pondo em risco o manuscrito de Os Lusíadas. Vivendo muito tempo em Goa, regressou a Portugal em 1556. Depois de uma longa estadia em Moçambique, em 1569 partiu para Lisboa. A primeira edição de Os Lusíadas saiu em 1572. Camões morreu 8 anos depois. (segundo Vitorino Nemésio)