21.4.06

O INSONE

Meus olhos abertos!
Levai-me até ao mar
a ver se adormeço!

Aqui tão distantes,
não se hão-de fechar
meus olhos abertos.

Chorarão lembranças,
formarão um mar
de pranto e desejo.

Um mar sem consolo,
que me há-de levar
à insónia eterna.

Não imitam os beijos
nem doces cantares
a onda e o vento.

A onda e o vento!
Quero ver o mar,
a ver se adormeço!

Juan Ramón Jimenez

Juan Ramón Jiménez nasceu em Moguer, no sul da Andaluzia, em 23 de Dezembro de 1881. Escreveu os primeiros versos na adolescência, quando frequentava o colégio de jesuítas do Porto de Santa Maria (Cádis). No Outono de 1896 foi para Sevilha estudar Direito, por vontade paterna; e pintura, por gosto próprio. Um ano depois, publicou num jornal sevilhano um poema inspirado numa rima de Gustavo Adolfo Bécquer. Em Março de 1899 começou a publicar versos na Revista Nueva, de Madrid. Por motivo de doença, regressou a Moguer. Em 1900, após experiência efémera na capital espanhola, publicou os primeiros livros: Ninfeas e Almas de violeta. Em 1901 esteve internado alguns meses num estabelecimento psiquiátrico. Desde então a sua vida dividiu-se entre a terra natal e a capital espanhola. Contra a vontade da família, casou com Zenobia Camprubí Aymar em 1916. Em 1917 publicou um dos seus livros mais aclamados: Platero y yo. Pouco depois de estalar a Guerra Civil, o governo espanhol concedeu ao poeta um passaporte diplomático. Viveu em França, EUA, Cuba, etc. Em 1940 recomeçaram as hospitalizações que o poeta teve de sofrer por depressões nervosas e achaques por estas provocados. Em 1956 foi concedido a Juan Ramón Jiménez o Prémio Novel da Literatura. Zenobia, morreu três dias depois, vítima de cancro. Juan Ramón faleceu em 29 de Maio de 1958.