30.4.06

QUE LÁBIOS JÁ BEIJEI, ESQUECI QUANDO

Que lábios já beijei, esqueci quando
e porquê, e que braços sob a minha
cabeça até ser dia; a chuva alinha
os fantasmas que rufam, suspirando,
no espelho, respostas esperando,
e no meu peito uma dor calma aninha
rapazes que não lembro e a mim sozinha
à meia-noite já não vêm chorando.
No inverno a solitária árvore assim
nem sabe que aves foram uma a uma,
sabe os ramos mais mudos: nem sei quais
amores vindos, idos, eu resuma,
só sei que o verão cantou em mim
breve momento e em mim não canta mais.

Tradução de Vasco Graça Moura.

Edna St. Vincent Millay
Edna St. Vincent Millay nasceu no Maine, a 22 de Fevereiro de 1892. Em 1912 publicou um poema numa antologia intitulada The Lyric Year. Os anos seguintes foram passados a estudar literatura e línguas, ao mesmo tempo que escrevia poemas e peças de teatro. Em 1917 publicou Renascence and Other Poems. Nesse mesmo ano mudou-se para Nova Iorque, assumindo uma postura rebelde e dedicando-se ao teatro. Sob o pseudónimo de Nancy Boyd, publicou algumas short stories. Famosa pelas diversas relações amorosas que foi cultivando ao longo da vida, Millay foi a primeira voz poética no feminino a receber o Prémio Pulitzer. Em 1923, ano da consagração, publicou The Harp-Weaver and Other Poems. Em 1927, juntou-se a um grupo de intelectuais que reivindicavam a absolvição de dois anarquistas acusados da morte de dois guardas no Massachusetts. O caso Sacco-Vanzetti, assim ficou conhecido, terminou com a execução destes e a prisão de Edna St. Vincent Millay. Na sequência dos acontecimentos, a poeta publicou no New York Times um texto sob o título Justice Denied in Massachusetts. Simpatizante comunista, acabaria por ser eleita para o National Institute of Arts and Letters (1929) e para a American Academy of Arts and Letters (1940). Em 1944, após vários envolvimentos amorosos e tomadas de posição pacifistas contra o fascismo espanhol e o nazismo alemão, Millay sofreu um esgotamento. Os seus últimos anos, marcados pela perda de familiares e amigos, adensaram o vício no álcool. Faleceu no dia 19 de Outubro de 1950.

1 Comments:

At 7:58 da tarde, Blogger Um homem comum said...

belo poema...

pena não achar nada dela traduzido.

se encontrar alguma tradução pode enviá-la?

grato

 

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