31.5.06

INSÓNIA

Dava o meu quarto para a au8to-estrada,
ao tráfico constante, dia e noite,
não podia dormir. Estive quase
doente muito a sério. Um amigo
disse-me que pensasse que era o mar.
Cheguei a acreditar que o ruído
era só o murmúrio das ondas
a acarinhar areias impossíveis.
Não era nada fácil. Muitas vezes
estive a ponto de render-me pois
imagens do asfalto e dos motores
sem dó e sem descanso me assaltavam.
Devo reconhecer que me ajudaram
os acidentes, que se multiplicam
sempre que a luz do sol desaparece
durante muitas horas. Era então
que eu escutava cantos de sereias
que, como os marinheiros, me embalavam.


Tradução de Joaquim Manuel Magalhães.

Amalia Bautista

Amalia Bautista nasceu em Madrid, em 1962. Licenciada em Ciências da Comunicação, trabalha como redactora no gabinete de imprensa do Conselho Superior de Investigações Científicas. Publicou o primeiro livro, Cárcel de amor, em 1988. Seguiram-se La mujer de Lot y otros poemas (1995), Cuéntamelo outra vez (1999) e Hilos de seda (2003). Poemas seus encontram-se em várias antologias de língua castelhana e portuguesa, entre as quais destacamos Trípticos Espanhóis - 3.º, de Joaquim Manuel Magalhães, publicada pela editora Relógio D’Água.