31.5.06

TODOS OS ANIMAIS SÃO POLÍTICOS*

A linguagem é o resultado de uma luta de poder dos homens e das mulheres e das coisas e reflecte a estrutura do mundo desejada pelos mais fortes. Por isso a linguagem é predominantemente masculina e racista. A melhor maneira de começar a ultrapassar os dualismos criticáveis é perceber que a linguagem não é inocente e que a linguagem nos cria. A linguagem não é uma coisa mais ao lado da cultura e ao nosso lado. Somos criados por ela. A linguagem tem um poder infernal por ser simultaneamente abstracta e concreta. Abstracta, porque (é uma segregação de um “discurso” dominante que) nos molda a estrutura do pensamento sem darmos (quase) conta, reproduzindo-se como uma espécie de código genético nas formações culturais; concreta, porque se modifica em consonância com os jogos de poder em movimento (poder no sentido que lhe dá Foucault). Modificar e aumentar a linguagem passa, assim, por influenciar o sentido do poder no presente, ou seja, por “resistir” (no sentido activo que, mais uma vez, Foucault utiliza). Serei melhor escritor quando for mais livre e ao mesmo tempo mais comprometido (com aquilo que eu quero que o mundo seja). Todos os animais - incluindo o escritor - são políticos.


*a propósito e na sequência de posts e comentários abaixo.


Rui Costa

4 Comments:

At 8:10 da tarde, Blogger hmbf said...

Excelente post. Subscrevo na íntegra.

 
At 8:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ou quase... :) Desconfio que quando dizes linguagem queiras dizer língua.

 
At 8:23 da tarde, Blogger dama said...

De novo apoio Rui Costa. Quanto à distinção entre língua e linguagem parece-me cada vez mais ténue, tanto como a essência do amor de que o Henrique falou uns comments abaixo. Saudações.

 
At 10:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Henrique: se o que pretendes é localizar um “espaço” (mais) imune ao discurso-poder, então não há interesse em distinguir língua de linguagem.
Rui Costa

 

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