16.6.06

O CORPO

Olhai-nos com clemência, escutai nossas súplicas.
Ao sol e na pobreza nos conhecemos.
De que serve ao homem ganhar tantas batalhas,
se ao fim perde a sua contra a solidão.
Clamamos a injustiça, o opróbrio certo
sobre as nossas fronteiras: as fronteiras da alma,
cercadas pelo medo ao desconhecido.
Para que porto obscuro navega a memória
poderosa do ódio, apodrece a esperança.
De que serve ao homem destruir-se a si mesmo,
afundar-se, naufragar, no mar das suas noites,
dócil à ondulação. Olhai-nos com clemência.
Na espada e na morte nos conhecemos.
Livrai-nos dos antigos monstros da ira,
dos lábios furiosos dos nossos corações.


Tradução de Joaquim Manuel Magalhães.

Vicente Valero

Vicente Valero nasceu em Ibiza em 1963. Publicou quatro livros de poemas: Jardín de la noche (1986), Herencia y fábula (1989), Teoría solar (1992), com o qual obteve o "Premio Internacional Fundación Loewe a la Joven Creación", e, nesta mesma colecção, Vigilia en Cabo Sur (1999, Marginales 176). Como ensaista publicou os livros La poesía de Juan Ramón Jiménez (1988), Experiencia y pobreza. Walter Benjamin en Ibiza 1932-1933 (2001) e Viajeros contemporáneos (2004). »