26.8.06

Reentré

O que me atraiu à blogolândia foi a festa da palavra, o jogo do debate, a diversão, a partilha. Quando cheguei, falava-se muito d’ A Coluna Infame e do Blogue de Esquerda. Alguns amigos diziam-me, com aquele ar de entusiasmo pelo sangue que nunca apreciei: «aquilo ainda vai dar porrada». Jamais percebi porquê, pois os meus weblogs de eleição, logo à chegada, foram outros, de gente que não conhecia de lado algum: avatares de um desejo, de Bruno Sena Martins, A Natureza do Mal, do Luís e da Sofia, Almocreve das Petas, de um enigmático masson, azul cobalto., da não menos enigmática m., A Memória Inventada, de Vasco M. Barreto, ou os saudosos Reflexos de Azul Electrico e Campo de Afectos, respectivamente do filósofo José Bragança de Miranda e do poeta Carlos Alberto Machado (duas excepções à regra). Também se falava muito do Abrupto e, não tanto, do Aviz, weblogs de gente cuja credibilidade era reconhecida noutros meios e, de certa maneira, acabava por se estender ao universo dos weblogs. Algumas das pessoas que escreviam nesses e noutros sítios, eu já as lia nos jornais, nas revistas, nos livros. Gente vinda d’ O Independente, do Diário de Notícias e seus agregados, mais tarde do Público, etc. Mas a grande surpresa para mim foi vir a encontrar uma série de nomes que me habituara a ler no malogrado , projecto de Miguel Portas que coleccionei e li devotamente. Foram os casos de Daniel Oliveira (Barnabé), Nuno Ramos de Almeida (Muro Sem Vergonha), Rui Tavares (primeiro no Cristovao-de-Moura, em debate com Paulo Varela Gomes, depois no Barnabé) ou Ivan Nunes (A Praia). De lá para cá, o fenómeno dos weblogs mudou substancialmente. Muita gente foi chegando, outros foram partindo. Cheguem ou partam, muitas dessas pessoas continuam a escrever nos jornais, participam em programas de televisão, dão entrevistas, servem inclusivamente para notas de rodapé nas páginas sensacionalistas da imprensa cor-de-pantera. Os seus percursos vão sendo feitos com a naturalidade da carreira que sobe e desce os montes até chegar ao seu lugar. Continuarei a lê-los, a escutá-los, com o mesmo gosto de sempre mas sem nenhuma religiosidade. Com o tempo, os weblogs têm vindo a enfermar de uma certa importanticidade com a qual convivo pessimamente. A culpa, claro está, é de todos e de ninguém. Uns chamam-lhe visibilidade, outros chamam-lhe legibilidade. Para mim é, nada mais nada menos, do que resultado da debilidade que tanto se acusa a Portugal e aos portugueses (esses que, por vezes, parecem ser todos os demais além de nós). Somos um país pequeno, isto anda tudo ligado. Os weblogs vieram permitir comunidades informais de leitores com uma enorme facilidade de intercomunicação. Como em Portugal somos para aí uns 300 a ler, não vale a pena esperar mais dos weblogs do que se pode esperar da sociedade. Somos uma sociedade burocrática, tristemente burocrática. (O burocrático pode aqui ser entendido, pelo bom entendedor, em sentido metafórico.) O resto será sempre o exibicionismo do costume, as patranhas da vaidade, as lérias da ambição, com o elogio e o reconhecimento à espreita no enfiamento dessa morte que a todos espera: esquecimento. Por isso, só por isso, permanecerei por cá. Insone o suficiente para me aguentar em mais uma directa na festa da palavra, no jogo do debate, na diversão, na partilha.
Adenda: Esqueci-me de mencionar, sem perdão, mais dois weblogs que visitei desde o início e aos quais devo muitas horas de leitura bem passadas: Desejo Casar e Janela Indiscreta.