22.10.06

IVG # 5

Luís Rainha, no Aspirina B, responde a João Pereira Coutinho, no Expresso:
«O tema é o aborto. Para variar, o menino declara-se incomodado com o ruído que os inferiores andam a fazer em seu redor, começando pelo primeiro-ministro. É que ele, JPC, até já decidiu que não estamos a falar de “mulheres presas (quantas foram?)” nem de “tragédias de vão de escada (quantas existem ao certo?)”. E eis como a ignorância confessa se vê promovida a opinião: ele não sabe quantas pessoas afecta o drama do aborto, logo parece-lhe lógico, como bom solipsista, menorizar a questão.
As perguntas que realmente interessam ao jovem iluminado são: “será que um embrião constitui vida? E, em caso afirmativo, será que o Estado tem uma palavra a dizer quando a cessação de vida pode ocorrer?”
O português empregue nestas “primevas” questões é deplorável e o seu significado nebuloso (que é isso do “constituir vida”? E quem é que alguma vez duvidou que um feto estivesse vivo?). Mas, mesmo assim, ele não tem dúvidas em responder “sim” a ambas. Lá saberá porquê.
O que eu nunca entendi muito bem nestas discussões é a razão de quase todos aceitarem a inexistência de actividade cerebral como definição aceitável de fim da vida humana mas parecerem incapazes de usar padrão simétrico para marcar o seu início. Se um embrião ainda não possui sistema nervoso central activo, estando o seu córtex desligado do tálamo, não é ainda um ser humano. Poderá sê-lo “em potência” ou “aos olhos de Deus”; mas é tão senciente quanto um feto anencefálico. E que médico levaria até ao fim uma gravidez dessas?
Acho óptimo que cada um preze a sua própria bússola moral e acalente a superstição de sua preferência; mas não tentem obrigar os outros a segui-las, por favor.»
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