30.10.06

VILANCETE

Como quereis que me ria,
Corpo de ouro, se vos digo
Que trago a morte comigo?

Vir um dia a apodrecer,
Se é destino de quem vive,
Outro destino não tive
Desde a hora de nascer:
Como não hei-de sofrer,
Corpo de ouro, se vos digo
Que trago a morte comigo?

Na dor de todo o momento
Meus tristes dias se vão,
E só tenho a podridão
Em paga do sofrimento:
Sombra de contentamento,
Como a terei, se vos digo
Que trago a morte comigo?

Júlio Dantas

Júlio Dantas nasceu em Lagos no ano de 1876. Formado em Medicina, desempenhou diversas funções públicas, como senador, deputado e ministro de Estado. A sua obra literária abrange géneros variados — teatro, poesia, conto, romance, tradução, ensaio —, tendo alguns dos seus textos, que na época alcançaram grande êxito, sido adaptados a óperas, a operetas e ao cinema. Estreou-se como poeta em 1896, com a obra Nada. Vinte anos mais tarde daria à estampa um volume de Sonetos. A figura de Júlio Dantas veio a ser associada ao academismo literário, o que o tornou alvo de ataques por parte dos jovens escritores modernos, como Almada Negreiros, com o Manifesto Anti-Dantas, que viam na sua obra tudo o que havia de estagnação na cultura portuguesa. Faleceu em 1962.

3 Comments:

At 11:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Já viu como, tirando o que tem de época, poderia ter sido escrito pelo Manuel de Freitas? Uma vaquinha para uma antologia do Júlio Dantas já!

 
At 12:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Peço desculpa, mas a minha querida mãe não me deixa falar com anónimos.

 
At 1:29 da manhã, Anonymous Anónimo said...

como é o nome deste poema???

responda-me com urgência, por favor!!

 

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