18.12.06

ARS LONGA

Le blanc souci de notre toile
Mallarmé

Cuidadosamente como um homem atando tomateiros,
querendo ser arranjadas, as palavras,
são toda a nossa preocupação, como esse talentoso
pequeno fumador sabia,

o que é dito é melhor do que dito se a
página for atacada com força.
Seixos num riacho, os círculos
que causam não têm importância,

a memória desses círculos, porém,
ah, a lembrança deles da próxima vez
que atirarmos seixos, há uma
comparação silenciosa, discutem na água

como contra a água no cérebro, o
riacho da agitação de ontem. Gravados
finamente, nem lamentam nem choram, as
palavras, não são nem a experiência

nem a sua expressão; uma barreira de celofane,
para te enredar ternamente, ou ferozmente,
uma aqui! uma ali! uma está em dois
ou três lugares ao…! ou é

ontem, que é isto, um poema?
um grupo de palavras, um monstro da
tarde, baixa a cabeça poderosamente, está em
plena posse da terra e do mar,

enche a nossa vela, enche a nossa vela
enche a nossa vela, enche
a nossa vela, enche a nossa
vela, enche a nossa vela.

Tradução de Manuel de Seabra.

Gilbert Sorrentino

Gilbert Sorrentino nasceu em Brooklyn em 1929. Romancista, contista, poeta, crítico literário e editor, fundou a revista literária Neon. A sua primeira colectânea de poemas, The Darkness Surrounds Us, apareceu em 1960. Escreveu mais de trinta livros e recebeu vários prémios. Faleceu no dia 18 de Maio de 2006.

1 Comments:

At 5:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Belo poema, Henrique,muito bem esclhido.
V.

 

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