19.12.06

Fragmento de uma canção perdida

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Estou sem tempo para pensar os sonhos barrocos de quem passa, estou sem tempo para a vastidão das forjas capitalistas, tenho o sangue indesejado dos justiceiros, só penso no longe, no longe, no longe do longe, aqui tão perto: a paciência do burguês comovido com o tom das unhas da senhora que faz embrulhos, o susto das crianças perdidas entre as prateleiras do supermercado, o bailio dos números. Se fosse impossível, tornaria possível este sonho: garimpar a minha solidão no vazio de um salão de festas, o salão federativo, associativo, cooperativo, dos malandros que passam entre as mil maneiras de uma vinha crescer e dar vinho.