27.1.07

BALADA DOS PREGOS

Calmamente fumou o cachimbo até ao fim,
Calmamente apagou o sorriso do rosto:

‘Brigada, atenção! Oficiais, avante!’
Com passos secos avança o comandante.

E as palavras são iguais ao seu sentido:
‘Às oito, levantar âncora. Rumo leste.

Quem tem mulher, filhos, irmão
Escreva, porque não voltaremos.

Em troca teremos o caminho da glória.’
E o imediato em resposta: ‘Às ordens, capitão!’

E o mais jovem de todos, o mais impetuoso
Olhou para o sol que batia na água.

‘Que importa, de facto,’ disse ele, ‘o lugar?
No fundo do mar repousa-se ainda mais tranquilamente,’

Aos ouvidos do Almirante chegou pela rádio:
‘Ordem cumprida. Não há sobreviventes.’

Se daqueles homens tivessem feito pregos,
Pregos mais duros não havia no mundo.


Tradução de Manuel de Seabra.

Nikolai Tikhonov

Nikolai Tikhonov nasceu no dia 21 de Novembro de 1896 em São Petersburgo, Rússia. Filho de um barbeiro e de um costureira, estudou numa escola comercial. Escreveu os primeiros poemas ainda muito novo, tendo como professor o poeta Nikolai Gumilev. O seu primeiro livro, A horda, aparece em 1922, já depois de ter aderido ao grupo Serapionovy Bratya. Yevgeni Zamyatin, fundador do grupo, em 1921, dizia que «a verdadeira literatura só pode ser criada por loucos, eremitas, heréticos, sonhadores, rebeldes e cépticos». Ainda na década de 1920, Tikhonov escreveu alguns poemas panfletários sobre Lenine. Na década seguinte teve uma efémera aventura política ao serviço da ditadura de Estaline, na sequência da qual conheceu o poeta francês Louis Aragon. Foi-lhe atribuído o Prémio Estaline três vezes, tendo também vencido por duas vezes o Prémio Lenine. Morreu em Fevereiro de 1979, na cidade de Moscovo.