26.1.07

NA MÍSTICA ESCADA

Roseiral bravio.
Onze fantasmas se debruçam
da corola das rosas;

suspendem-se nas pétalas
ternuras satisfeitas;
mãos de seda
ensanguentadas se afastam.

Segundo o modo da culpa.
Segundo o modo da culpa
se estenderá a excomunhão
ou o castigo.

Vibram indícios.
Ramos já secos
serão fogo no seu tempo.

Da chama, do calor doméstico
renascerão os esguios vultos,
como um crime.

Secretos consoladores,
Irmãos anciãos e sábios
consolem seu irmão excomungado.

Das rosas deliciosas,
da densidade verde da folhagem,
da beleza, do perfume,
escorre vício.

Só ao sinal do peregrino
os monges falam.

Da corola das rosas
ascende uma fonte de mistério.

Doze degraus a separam da terra.

Fernando Guedes
Fernando Guedes nasceu no Porto, a 1 de Julho de 1928. Frequentou o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, acabando por dedicar-se à literatura, às belas-artes e à história da cultura. É considerado um poeta da geração da Távola Redonda, tendo também colaborado com outras revistas tais como a Graal, a Quatro Ventos, a Mensagem ou a Tempo Presente, que dirigiu de 1959 a 1961. Como poeta, estreou-se em 1948 com o livro A esfera. Em 1958 foi o fundador da Editorial Verbo. Foi Prémio Antero de Quental em 1960 e recebeu o Prémio Nacional de Poesia em 1968, ano da publicação das suas Poesias escolhidas (1948-1968). Ocupou diversos cargos em diversas instituições e foi também um dos fundadores da Fundação de Serralves, na qualidade de Presidente do Grupo Sogrape. É proprietário da Livraria Leitura, fundada em 1968.