27.3.07

E EU DIGO-LHE


E eu digo-lhe, que não são
vãos os anos que vivi,
nem inúteis os caminhos percorridos,
ou sem objectivo tudo o que ouvi.
Não são imunes ao mundo,
nem são imaginariamente uma prenda de anos,
os amores em vão também não foram,
amores fraudulentos ou doentes,
a sua luz limpa e imortal
sempre em mim,
sempre de mim.
E nunca é tarde para de novo
começar toda a vida,
encetar o caminho,
para que do passado – nem uma palavra,
nem um gemido seja destruído.


Tradução de Manuel de Seabra.

Olga Berggolts

Olga Berggolts nasceu no dia 16 de Maio de 1910. Começou a publicar versos com apenas 14 anos, juntando-se, em 1925, a um pequeno grupo literário do qual fazia parte Boris Kornilov, seu futuro marido. Em 1930 formou-se em filologia, sendo enviada para o Kazaquistão como jornalista. Divorcia-se de Kornilov, de quem tem uma filha, e casa-se com Nikolay Molchanov. Publicou o seu primeiro livro de poemas em 1934, muito elogiado por Gorky. No final da década de 1930 o seu primeiro marido é preso e executado, as suas filhas morrem, e Olga passa sete meses no cárcere. Devido às torturas de que é alvo, dá à luz uma criança morta. Libertada em 1939, trabalha para a resistência numa rádio de Leninegrado. Granjeia por essa época grande sucesso junto das massas populares. Além de poesia, escreveu ensaios, romance e livros de memórias. Faleceu a 13 de Novembro de 1975.