18.6.07

A UM JOVEM CAMARADA

Meu Camarada moço,
- Lidos os teus poemas,
Apenas posso
Dizer-te que não temas
Dar-lhes o fogo, a morte, o esquecimento.

Se queres a Poesia, vai para ela
Puro, desnudo, de ímpeto violento,
Como para a mulher
Em que parou teu sonho, - se és o seu.
Vai, como ela te quer.

Mas se outra chama inflama o teu amor,
Se outro sonho tão belo te rendeu,
Tem coragem nobre de depor
Os versos que não são teu instrumento.
Toma outras armas mais condizentes.

Não, a Poesia não a violentes!
Deixa os versos ao vento…

Alberto de Serpa

Alberto de Serpa nasceu no Porto, em 1906. Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra e integrou-se no movimento da Presença. Fundou, com Vitorino Nemésio, a Revista de Portugal. Colaborou em várias revistas e jornais brasileiros e portugueses. Publicou Quadras e Evoé, em 1924, seguindo-se Varanda e Descrição, em 1934, entre outros. Publicou, com José Régio, as antologias Poesia de Amor e Na Mão de Deus. Faleceu em 1992.