3.7.07

Juízes, pediatras, joalheiros: cançonetistas
preparam a alvorada da gestão da matéria,
sentem a intensidade das suas existências
como um espectáculo bem remunerado,
mais um, enquanto compõem colarinhos
perante a frieza espelhada do alumínio.
Fatos por medida, iniciam outro dia
pelo incómodo d’um atacador mal laçado:
o que lhes afecta a imaginação ornamental.
Se tudo neles ao fracasso tenho votado,
a começar pela sua indiferença ao alheio,
receio nesta gente com acções e nenhuma
acção directa a ligeireza do seu domínio.
Só rostos parcelares: «fale com o meu
advogado»; micro-excitações em diferido.
Notárias, futebolistas, parteiras: polícias;
e lá vão garantindo a gerência disto tudo.

Paulo da Costa Domigos

Paulo da Costa Domingos nasceu em Lisboa, em Setembro de 1953. Estreou-se em 1972 com Palavras, título retirado do mercado. Alguns dos seus primeiros livros, tais como Gogh Uma Orelha Sem Mestre (1975) e Asfalto (1977), inicialmente publicados pela &etc, têm sido alvo de novas versões, saídas na Frenesi, casa editorial da qual o próprio é editor. Publicou ainda sob os pseudónimos de Celeste Viriato, Eva Blush’ô e Eva Ruivo. Em 1987 organizou, com Al Berto e Rui Baião, a antologia Sião. Colaborador em várias revistas, como a Pravda. Revista de Malasartes, Hífen, Tabacaria, Canal e Bíblia, salienta-se a edição, em 1995, de Carmina – 1971-1994, pela Antígona, onde reviu e reuniu a sua produção poética anterior. Mais recentemente, publicou o volume Nas Alturas (2006).