10.10.07

Bloco de Apontamentos # 58


MJLF, S/ título, Caneta s/papel, 30x21cm, 1997

Este fim-de-semana assisti a um dos melhores concertos da minha vida: The Hilliard Emsemble na catedral de Évora a interpretar a nossa polifonia nas Jornadas de Música Antiga da cidade. Este peculiar Emsemble ficou conhecido pelas suas interpretações de Arvo Pärt e o que ouvi foi de facto milagroso: um concerto com um reportório onde Diogo Melgás, Francisco Martins, Lopes Morago foram intercalados com Dufay e St .Martial. O reportório era corrido sem espaço para aplaudir entre as peças e eles não tiravam os tons entre elas, não era necessário, entravam e saíam no tom certo. A certa altura, ao terminarem uma peça de Melgás, os sinos da catedral começaram a tocar as 22h, e eles ficaram em silêncio com as centenas de assistentes a escutarem os sinos – quando os sinos terminaram, o público não aguentou e desatou a bater palmas. Senti aquele momento do concerto como uma homenagem ao próprio tempo naquele espaço sagrado onde séculos atrás se produziram e interpretaram o melhor da nossa polifonia. E o final do concerto ainda foi ainda mais extraordinário – depois do público os aplaudir ao rubro, eles interpretaram um extra, uma pequena peça contemporânea composta especialmente para eles por um compositor inglês actual (que não recordo o nome, mas todos os verões eles organizam residências para trabalharem com compositores actuais). Aí tanto o público como a catedral estremeceram com a surpresa.

Maria João