12.11.07

ODE AO VINIL

Uma agulha suja
por muitos acordes
suicidas enche-me
de catástrofes
entre o sentido
e a dissimulação
do seu destino

Lá fora dançam impessoais
as personagens-fantasma
da poética mutilação
do eterno retorno
que lá dentro dança
fora de si

Espero-me em silêncio
tal anjo perdido
poeticamente distorcido
pela palavra

Espero-te ao espelho quebrado
sem nada para te dar
entre gemidos agudos e graves
na camisa de sete forças
da palavra

A. Dasilva O.

A. Dasilva O. nasceu em 1958, no Perosinho, freguesia do concelho de Vila Nova de Gaia, na casa onda ainda hoje reside. Chama-lhe Casa Museu A. Dasilva O., pseudónimo literário com o qual assinou parte substancial de uma obra que conta com 24 títulos publicados. Além dos versos, das prosas e dos dramas, tem-se desdobrado em projectos vários que incluem a criação da Rádio Caos, nos anos 80, intervenções de rua como o Jornal da calçada – trinta metros de papel cenário atapetando a Rua de Santa Catarina -, criação de revistas como ArteNeo – A Revista Filha da Puta, Papa, Marquesa Negra, Movimento N e Última Geração, o lançamento de um “fanzine poético” intitulado Bad Writing, a promoção das Conferências do Inferno, já nos noventas, a criação das Edições Mortas. O seu primeiro livro editado foi Eco, ou o gago (1982).