18.12.07

POEMA DE NATAL

Para todos os leitores do Insónia


Naquele tempo as luzes duravam toda a
noite. Mas faltava-lhes a eléctrica eficácia de
quem chama, vinde todos comprar um souvenir,
reis magros, corretores da bolsa, funcionários
e teleguiadas tias por estrela que conduz aos
mares do sul, cristãos e bronzeados, a minha vida
dava um filme. Nem sabe o que me aconteceu, o
vestido da Senhora não traz instruções de lavagem
e a vaquinha de polietileno engorda sozinha, eu próprio
já não sinto os olhos de tanto ver as luzes acender e
apagar. Mas uma coisa é certa: Jesus se fosse vivo
havia de ter um partido, ler os tops da Fnac e saber
de cor o nome de todos os ministros. Havia de
sair de casa pela porta da frente, cumprimentar
os jornalistas e conceder duas medidas correctivas dos
excessos do capitalismo; depois, no último degrau
levantaria a palma de sua mão direita e os passantes,
subitamente inundados de um fulgor renascido,
estugariam o passo e entrariam no metro, sorrindo,
acreditando um pouco mais no reino
que tarda a ter um fim.


Rui Costa

2 Comments:

At 12:24 da tarde, Blogger MJLF said...

Este poema é do melhor, irónico! Mas não concordo, Jesus não tinha biblioteca e nos nossos tempos não teria partido, seria um sem-abrigo louco e ninguém lhe ligava nenhuma, adaria nas ruas a pregar o amor aos indiferentes.
:)
Maria João

 
At 11:45 da tarde, Blogger R. said...

Este post quase ouve os sinos tocar.

(Jesus, se fosse vivo, haveria de querer uma foto, em pose bonacheira, com iluminação dita natalícia à frente. Sempre inovava o merchandising.)

 

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