27.2.08

INÉDITOS DE JORGE AGUIAR OLIVEIRA #17

GANDA MALUCONA



Nasceu num bairro camarário
de pé descalço e palavras porcas.
Quando o pé teve chinelo fez rabo
de cavalo e enfeitou o decote.
Chica-esperta, cercou um totó
coca com guita do Bairro Azul
roubando-lhe o apelido, o anel e
a estrela do baile. Anos depois,
cuspiu restos dum beijo e virou-se
para um paxá do petróleo. Piscou
o olho aos diamantes e exigiu
muitos barris de oiro negro
no divórcio das areias.

Entre convivências de cinismo
e intriga, brilhou nas fotos
das revistas cor de rosa
com um cravo vermelho entre
as mamas, de braço dado
a um político mafioso da moda.

A pechisbeque puta caviar pensava
poder comprar tudo e todos
com os cheques chulados,
sem entender que

uma gaja nunca se confunde
com uma deusa. Quanto muito
com uma senhora.

O Senhor não a deixou ter filhos
talvez por ser mais maldosa,
invejosa e egoísta do que as outras
todas juntas. Algumas até trincam
o coração aos filhos. Outras,
teimosas, desafiam-no e adoptam
futuros clientes para os psicólogos.
Têm dinheiro, Dr. antes do nome,
uma cunha e sabe-se lá se luvas,
nos bolsos. Mulher sem filhos
é pior que bicha sem homem.

Estas são uma praga na franja
do poder. Metem o dedo no decreto-lei,
na notícia, na editora, no evento,
na puta que as pariu.

Pelos anos ofereci à macaca
células cancerosas com lacinho
e tudo, dizendo-lhe: Não te ouves,
não me ouves, nem ouves ninguém!
Avisando-a para não se atrever
a tocar com um dedo nas carnes
do meu homem. Como é mulher
atreveu-se por inveja e desafio.

Ceguei-a com palavras ácidas
para que cada manhã fosse um susto,
cada tarde um terror e cada noite
uma derrota na sua ambição.
Mesmo assim,

à traição cravou
no meu peito a andorinha
e voltou de flash o Outono.

Jorge Aguiar Oliveira