14.2.08

LOST


No Natal passado ofereci à Ana a primeira temporada da série norte-americana Perdidos. Confesso que nunca fui fã destas séries, vou acompanhando uma ou outra com vago interesse e não perco muito tempo a debruçar-me sobre os argumentos. Assim foi com Perdidos, com CSI, 24, House M.D., entre outras. A verdade é que comecei a ver a primeira temporada de Perdidos e, num mês, acabei a comprar e a ver a segunda e terceira temporadas. É um facto: no espaço de um mês vi todos os episódios de Perdidos que passaram até hoje na televisão portuguesa. Só uma razão, por mais voltas que dê, pode explicar o vício: gostei da série. Interrogo-me porquê. O que haverá nesta série que me prende como nenhuma outra me prendeu antes? De há uns dias para cá que cogito sobre o assunto, exerço a autorreflexão em busca de uma teoria, procuro no imo da alma uma explicação. Não sei como colocar o problema, mas a melhor forma de o partilhar é a que encontrei para compreender a obsessão, do mesmo tipo, com filmes sobre prisões e prisioneiros que tentam fugir das prisões e guardas corruptos que lixam a vida aos prisioneiros. Os perdidos da série Perdidos, no fundo, são prisioneiros. Não são prisioneiros em fuga, mas são prisioneiros tentando sobreviver na mais enigmática de todas as prisões: uma ilha. No entanto, a ilha é apenas o espaço geográfico onde decorre essa luta pela sobrevivência. Porque eles próprios são, cada um à sua maneira, um outro tipo de ilhas. A ilha é um espaço importante, na medida em que, como muitas ilhas, ela conquista no nosso imaginário uma ambiguidade que é a da beleza misturada com o isolamento, a de uma espécie de duelo com a própria incomunicabilidade. Há em todo o argumento desta série uma provocação permanente da lógica: aqueles sobreviventes estão em estado de luta pela sobrevivência, a sua sobrevivência depende, em grande parte, da forma como torneiam ou dominam os dramas que trazem do passado, as tragédias pessoais que transportam na memória, os medos, as frustrações, as experiências recalcadas. No fundo, não estão perdidos na ilha. Estão perdidos dentro de si próprios. São os seus piores inimigos. Talvez a experiência na ilha seja antes uma espécie de teste, uma prova de orientação que me leva a crer não serem tanto aqueles personagens sobreviventes de um voo acidentado mas antes indivíduos em queda permanente. São, como todos nós, um desastre em exercício.

1 Comments:

At 11:25 da manhã, Blogger Sol said...

Bem-vindo ao mundo dos viciados em Lost!

 

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