28.4.08

FAZ SENTIDO

Desde sempre os homens oraram pelo essencial, suplicando chuvas onde só há deserto, clamando por sol onde apenas há gelo. A relação dos homens com o sagrado foi sempre algo comercial. Os deuses satisfazem as nossas necessidades, nós prestamos culto aos deuses. A relação não é assim tão linear, pois processa-se numa espécie de círculo onde o culto prestado garante o auxílio divino e o auxílio divino como que justifica a perpetuação do culto. Ora, se o chamado progresso das sociedades desenvolvidas foi possível, não graças a deus, mas graças aos homens, que, lá por alturas do Renascimento, começaram a olhar para o mundo com uma perspectiva mais pragmática e utilitária, a verdade é que, ao contrário do que vem sendo aclamado desde, pelo menos, Nietzsche, Deus não morreu. As necessidades é que mudaram e, com elas, a relação dos homens com o sagrado. É pois muito natural que haja quem reze por gasolina, assim como quem reza por água, terra, luz e ar consoante o que lhe seja necessário. Os homens vêem Deus no que lhes falta. Na verdade, Deus está no que falta aos homens.