28.2.09

APRENDER A CONTAR #70

O rapaz que não tira os olhos do chão

Não tira os olhos do chão. Como se seguisse um trilho do qual não se pode distrair, nem por um segundo.
Faz percursos sem sentido. Segue numa direcção. Pára. Muda o sentido. Regressa. Segue noutra direcção.
Nunca olha para cima. Conhece Lisboa pelo chão, sabe de cor os passeios dos calceteiros, com os seus desenhos de pedras pretas e pedras brancas, sabe de cor as ruas cruzadas por linhas de eléctricos abandonadas às ervas.
Incansável, faz com os seus passos o (secreto) mapa da sua solidão.

Nuno Artur Silva (1962), in As Passagens do tempo, Cotovia, Setembro 2000, p. 23.

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